Sortear R$ 300 mil entre bons motoristas parece boa ideia; será mesmo?
A notícia de que a Prefeitura de São Paulo está em fase final para viabilizar um projeto que irá sortear R$ 300 mil entre os motoristas que ficarem um ano sem levar multa causou rebuliço na internet. Em primeiro momento, parece boa ideia… Mas, não é!
Na verdade, é uma inversão de valores e um desserviço para aqueles que se preocupam com a conscientização do trânsito, como é o caso deste blog.
Particularmente, fui criado com a máxima "não fez mais que a sua obrigação". Quando tirava notas boas na escola, não ganhava prêmio; mas, quando ia mal, corria o risco de ficar de castigo. Uso a mesma máxima para meus quatro filhos.
Eles têm de estudar para construir seus próprios sensos críticos, ter carreiras menos tortuosas, tentar fazer a diferença na sociedade e buscar um lugar ao sol. Enfim, para serem felizes. Não para trocar de carro ou ganhar uma bicicleta nova.
Já os motoristas, têm de dirigir sem levar multa porque é mais seguro, porque o trânsito brasileiro é um dos que mais matam no mundo e, dessa forma, eles estarão se expondo a menos riscos. Porque beber, dirigir e matar é crime, não é acidente. Porque a cada dois minutos um brasileiro fica com sequelas graves para o resto da vida e, a cada 13 min, uma pessoa morre no trânsito do nosso país! Não faltam argumentos.
Desde quando me tornei pai, no dia 9 de abril de 1995, uma das coisas que mais me aterroriza é a possibilidade da inversão do curso natural da vida. Em palavras práticas, enterrar um filho. Pois o trânsito é a principal causa de morte de jovens no Brasil.
Ah, mas a indústria da multa é revoltante. Tem muito radar espalhado, há pegadinhas de variação de velocidades para induzir os motoristas ao erro e, assim, angariar fundos para as prefeituras. Mas o trânsito só vai melhorar quando três pilares funcionarem: rigidez nas leis/fiscalização (multas), engenharia (vias seguras) e educação (campanhas de conscientização).
O problema é que os governantes, por enquanto, só focam no primeiro deles: o único que gera receitas. Os outros dois exigem investimentos e só trazem retorno no médio/longo prazo. O que para a maioria dos nossos políticos, é muito tempo e não serve de plataforma para a reeleição ou voos maiores na carreira pública.
Mesmo com tantos problemas, posso garantir que a nossa fiscalização ainda é bem menos eficiente do que as aplicadas no exterior. Não são raros os episódios de brasileiros que levam multas em viagens. E aí, será que eles também têm a indústria das multas lá fora? Ou simplesmente fiscalizam o trânsito em prol da segurança e do bem-estar coletivo?
Ah, mas a educação lá fora é outra… É verdade, mas vale lembrar que metade da população de Toronto, por exemplo, é estrangeira, com destaque para chineses, indianos e brasileiros. Passou da hora de nós revermos nossos conceitos em relação aos perigos no trânsito…
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